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Você está proibido de ler este blog fora de ordem! A nova ciência da tecnologia criou uma nova ditadura de formas e conteúdos e tive que fazer algumas mágicas para que as coisas apareçam na ordem certa (mas nem sempre funciona)!
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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Rascunhos de Um Pensar - Parte 07

Já a segunda questão, de como nós próprios sairemos da teoria para o resultado, só me permitirei divagar superficialmente porque, obviamente, não há regras e procedimentos que, por terem sido escritos, tenham efetivado a cura. Não é a receita que cura o paciente, mas sim a interação do remédio com o doente.

Uma das formas aparentemente óbvias de se chegar ao Nada é praticá-lo. Mas isso pode não ser tão simples. Me lembro de um antigo e enraizado pavor que tinha, que é difícil até de explicar: nos meus momentos de devaneio, principalmente na minha juventude, quando tinha o hábito de me deixar atropelar pelos meus pensamentos, permitindo que se dessem as mãos sem a necessidade da menor coerência, sempre acreditei que pensar era estar vivo e que somente o pensamento pudesse gerar um novo pensamento, perpetuando assim o viver (Cogito, ergo sum).

Deixava então a mente trabalhar e vivia com a certeza que ela era a morada da vida, da existência, da realidade. Toda vez que eu pensava em desligar a mente, deixá-la quieta, me vinha a imagem do carro sem motor de arranque que, se desligado, nunca mais voltaria a funcionar. Pode parecer paranoia, e talvez seja.

Agora faço meus exercícios do Nada, tenho progredido e feito algumas viagens. E como se faz isso?

Por exemplo, escolha uma música que te acaricie e te invada sem te perturbar ou exigir de você memória, lembranças ou ligações. Começa a prestar atenção no que ouve. Tenta sentir cada nota, cada sobe e desce da melodia, cada riqueza da criação do artista, cada beleza da harmonia que vai desfilando perante teus sentidos.

É uma experiência relaxante, cria em você uma admiração pela capacidade de alguém ter criado essa coisa tão simples e rica. Mas isso não é o Nada, é sua antítese, o Todo.

Imagina a música como uma névoa que te toca, arrepia tua pele, acaricia teus sentidos. Flutua então por esta névoa, busca uma nota, um som que te chame a atenção. Flutua ao redor dela, vislumbra-a de todos seus lados, por todos seus contornos, persegue-a pelos seus passeios por dentro da névoa. Vê como ela conversa com as outras, vê como ela passeia dona de si...

Agora fecha teus sentidos, de leve, e vislumbra-te passeando pela névoa, afasta-te de ti mesmo e presta atenção. O que vês?

Nada vês, pois não és música, não és névoa, não estás onde achavas que estarias... se lá estivesses este "lá" existiria e não seria música, não seria névoa. Então, onde estás?

Estás passeando pelo Nada, que te permite Tudo sem que o Todo perceba ou se incomode.

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